Magistrado mineiro, apelidado de ‘Indiana Jones’, percorre vários países em conflito para dar lições de cidadania. Ele já enfrentou muitas situações de perigo nas missões da força-tarefa da ONU para promover eleições democráticas
Rio - Para muitos leigos, o máximo de ação que a profissão de juiz envolve é bater o martelo antes de gritar: “Silêncio no tribunal!”. Um magistrado mineiro, entretanto, tem no currículo atividades como pouso forçado num campo de futebol, ser perseguido por uma multidão de manifestantes enfurecidos e conversar de perto com guerrilheiros na África.
Hoje no Conselho Nacional de Justiça, Paulo de Tarso Tamburini Souza faz parte de uma força-tarefa da ONU que atua em países — muitas vezes arrasados por guerra — que estão passando por reformas em seus sistemas jurídicos e eleitorais. Por isso, recebeu o apelido de ‘Juiz Indiana Jones’.
O juiz, que atuava até o ano passado no Tribunal Superior Eleitoral, viaja a países como Palestina, Congo, Guiné-Bissau, Moçambique, Burundi, entre outros, explicando como funciona, principalmente, o sistema eleitoral brasileiro. “A força-tarefa ajuda na formação de profissionais que ajudem a fazer uma eleição, na parte logística, na parte legal e no processamento dos votos”, explica Tamburini.
O trabalho não é fácil: vários países visitados passaram décadas sob fortes ditaduras, com o poder sendo disputado por grupos rebeldes. Muitas vezes os grupos que perderam nas urnas não aceitam as derrotas.
Durante as viagens, Tamburini passou por momentos tensos, principalmente na África. No Congo, onde há resistência a missões da ONU, o comboio onde ele estava chegou a ser perseguido por uma multidão. Também na África, presenciou um julgamento a céu aberto onde um condenado foi executado imediatamente após a sentença.
Nada disso abala o magistrado que, semana passada, deu palestra sobre os sistemas judiciário e eleitoral do Brasil em Gana: “Se o Conselho entender que podemos continuar com esse trabalho, não há nada que impeça”, diz.