Rio - Um profissional competente e de conduta irreprenssível. Assim Mário Guilherme Fonseca, chefe da obstetrícia do Hospital Miguel Couto, descreveu, em depoimento prestado nesta segunda-feira na 14ª DP (Leblon), o médico Roberto Tizi Ferraz, profissional que negou atendimento a três gestantes e ainda escreveu números de linhas de ônibus e da maternidade no braço de uma delas. Manoela Costa, de 29 anos, perdeu o bebê.
Nesta tarde, Mário Guilherme Fonseca prestou depoimento na 14ª DP. Ele afirmou que Tizi tem 33 anos de carreira na unidade da Gávea - 30 como profissional e três como residente - e é considerado um médico muito bom e que nunca respondeu por qualquer irregularidade. O chefe da obstetrícia do Migeul Couto, no entanto, não soube explicar os motivos que levaram o servidor a tomar a atitude de enviar Manoela e mais duas gestantes para a Maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão.
Roberto Tizi presta depoimento no Leblon
Depois de faltar na semana passada, Roberto Tizi está neste momento prestando depoimento na 14ª DP (Leblon). A Delegada Tércia Amoedo tenta esclarecer os motivos que levaram o profissional a negar atendimento para a Manoela e outras três gestantes. Por consequência de descolamento prematuro de placenta, o bebê de Manoela não resistiu e faleceu.
A delegada Tércia Amoedo afirmou que já recebeu o laudo médico de Manoela, enviado pela maternidade Fernando Magalhães, e o documento será submetido a uma análise. Manoela e outras duas gestantes procuraram atendimento no Miguel Couto, mas foram despachadas pelo médico Roberto Tizi. Com o braço escrito com linhas de ônibus, elas foram de van para a maternidade Fernando Magalhães, mas o bebê não resistiu.
O médico pode responder pelo crime de omissão de socorro com resultado em morte. A pena chega a 18 meses. O caso vai para o Juizado Especial Criminal.
Entenda o caso
Médico do Hospital Miguel Couto, no Leblon, recusou o atendimento a três grávidas. Depois de examinar as pacientes, e constatar que uma das gestações era de risco, o obstetra de plantão escreveu com caneta no braço das gestantes o nome da maternidade para onde elas deveriam ir — “Fernando Magalhães” — e os números —“476 e 460” — das linhas dos ônibus que passam próximo à maternidade em São Cristóvão, na Zona Norte.
Com sangramento e fortes dores provocadas por descolamento da placenta, a gestante Manuela Costa, 29 anos, seguiu a recomendação médica. Moradora da Rocinha, ela seguiu de ônibus até a maternidade Fernando Magalhães, onde foi submetida a cesariana de emergência, mas já era tarde demais. A criança nasceu morta. As outras gestantes que também teriam sido marcadas pelo médico tiveram os filhos e já receberam alta. Manuela deve ter alta na segunda-feira. O prefeito Eduardo Paes determinou a demissão dos profissionais envolvidos, caso as denúncias fiquem comprovadas. Ontem à noite, o secretário de Saúde Hans Dohmann visitou Manuela na maternidade. Segundo ele, o médico ainda não foi identificado. “Não consigo entender por que ele fez isso. É absurdo. A punição tem que ser a máxima. Se for cabível a demissão, ele será demitido”, disse o secretário.
O Sindicato dos Médicos do Rio vai encaminhar denúncia ao Ministério Público solicitando apuração do caso. O diretor do sindicato José Romano acredita que falhas no sistema de saúde podem ter levado o médico a agir desta forma. A Secretaria Municipal de Saúde enviou uma carta à Comissão de Ética do Miguel Couto. As sindicâncias deverão ser concluídas em até três semanas.
O vereador Dr. Carlos Eduardo, presidente da Comissão de Saúde Pública da Câmara Municipal lamentou o episódio. “É inadmissível a recusa no atendimento, ainda mais em se tratando de uma gravidez de risco”, criticou. Ele fará inspeção no Miguel Couto.