Japoneses testam protótipo que mistura fragrâncias segundo comandos remotos
Rio - Quer em vídeos, animações e ambientes tridimensionais, quer em interfaces sensíveis ao toque e jogos como o Nintendo Wii, a tecnologia atual oferece um banquete de estímulos para visão, audição e tato. Agora, o olfato pode entrar na lista de sentidos alcançados pela Internet e pelos computadores. Está em testes no Japão um sistema de “comunicação olfativa” que transmite mensagens aromáticas por meio da rede.
Criado pela NTT Communications, o sistema i-Aroma se baseia num gadget de 15 centímetros de altura que se liga ao computador por USB e funciona com Windows XP e Vista. Dentro do aparelho ficam seis frascos de óleos básicos, que são misturados segundo comandos recebidos pela Internet, e espalhados no ambiente com ajuda de um pequeno ventilador interno.
Akiko Miyamoto, porta-voz da NTT Com, explica por e-mail que a escolha dos seis óleos básicos varia de acordo com o serviço. Os primeiros testes, que serão feitos com 360 voluntários japoneses entre julho e agosto, serão com dois serviços ligados à astrologia e aromaterapia.
O serviço astrológico combina fragrâncias de laranja, lavanda, limão, cipreste, eucalipto e bergamota, formando 14 aromas diferentes. Os aromas são espalhados no ambiente seguindo o período de maior interferência de cada planeta no zodíaco. Segundo NTT Com, tudo segundo orientação de astrólogos profissionais.
A combinação para o serviço de aromaterapia mistura odores de limão, lavanda, tangerina, Ylang ylang (uma flor cujo óleo é considerado afrodisíaco) e olíbano, produzindo 18 misturas. A cada quatro horas, segundo o ritmo de vida do cliente, o sistema i-Aroma espalha 3 misturas aromáticas no ambiente.
As receitas para essas misturas são baixadas nos servidores da NTT Com pela Internet e são acionadas por um aplicativo na área de trabalho do computador.
Mas será que um hacker mal-intencionado poderia invadir o sistema e sair espalhando odores desagradáveis pelo i-Aroma? Segundo Miyamoto, mesmo que haja uma invasão, as misturas são feitas a partir das essências que estão no aparelho do consumidor, o que limita a ação de piratas.
Dependendo do resultado dos testes, o i-Aroma pode começar a ser vendido no Japão a partir de setembro. Para quem pensa tratar-se de um blefe, vale lembrar que um sistema de outdoors capaz de lançar fragrâncias no ambiente para atrair clientes começou a ser vendido no ano passado.
E como era de se esperar, ainda não há previsão de comercialização no Brasil. Depois do i-Aroma, para completar o banquete tecnológico dos sentidos, fica faltando apenas o paladar. Alguém duvida?
Aromas no cinema
Apesar de inusitada, a ideia de misturar tecnologia e cheiros não é nova. Em 1959, foi testado um protótipo chamado AromaRama em cinemas americanos que exibiram o filme “Behind the Great Wall”, sobre uma viagem à China. Durante a projeção, o invento de Chuck Weiss lançava mais de cem cheiros pelos dutos de ar-condicionado, como grama, terra, pólvora, no intuito de enriquecer a experiência da audiência. Apesar das grandes quantidades de aromas espalhados, o plano não funcionou muito bem por conta da característica natural do olfato humano de não distinguir um cheiro de outro enquanto as moléculas do primeiro não são eliminadas.
Ou seja, a tendência num curto intervalo de tempo é misturá-los. Outro experimento foi o smell-o-vision, no qual havia tubos individuais para cada assento, por onde os aromas seriam borrifados. Frascos com perfumes eram dispostos em ordem e ligados a uma correia e um motor, que acompanhava o ritmo da projeção. Durante a cena, o frasco era perfurado, lançando o aroma. A invenção assinada por Hans Laube foi testada com o filme “Scent of mistery”, no qual um personagem misterioso era identificado pelo cheiro de cachimbo. Na época, a crítica considerou os aromas serviam apenas para distrair a plateia e não contribuíam esteticamente para o filme.