Preocupado com os números do sindicato, o secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão, prometeu apertar o cerco aos infratores: “A prefeitura não tem atribuição para checar a documentação dos motoristas, apenas as condições dos coletivos. Mas vamos nos reunir com representantes do Detran e do Detro para definir estratégia para corrigir este problema gravíssimo”.
Segundo o vice-presidente do sindicato, Oswaldo Garcia, apesar da restrição, as empresas de ônibus estariam fazendo “vista grossa” para o problema. O motivo seria a falta de profissionais disponíveis no mercado de trabalho para substituir os motoristas punidos. Em junho de 2008, O DIA mostrou que havia mais de três mil vagas disponíveis só na capital. Hoje, o déficit já seria de seis mil motoristas.
“Essa é a nossa realidade. Os motoristas estão cheios de multas e correndo o risco de perder a carteira de habilitação. Mas, como os empresários sabem que se demitirem esses profissionais a cidade vai ficar praticamente sem ônibus nas ruas, eles preferem fingir que não sabem de nada, já que motoristas de ônibus nunca são parados em blitz”, destaca Garcia, que acusa os empresários do setor.
“Se não obrigassem os motoristas a correr tanto para recuperar o tempo perdido no trânsito, sob pena de serem até demitidos, nada disso estaria acontecendo”, dispara Garcia.
Diretor de Marketing da Fetranspor, João Augusto Monteiro nega a acusação. “Ninguém é obrigado a desrespeitar as leis para cumprir horário”.
Média de infrações dos condutores chega a 14 por hora
Estatísticas do Detran mostram que de janeiro a abril foram registradas 40.503 infrações cometidas por motoristas de ônibus no estado, média de 14 por hora. A maioria por excesso de velocidade (9.445) e avanço de sinal vermelho (6.938). Parar sobre a faixa de pedestres aparece logo em seguida no ranking das infrações, com 3.158.
Apesar dos números, o diretor da Fetranspor, João Augusto Monteiro, afirma que “todas as empresas são orientadas a acompanhar a ficha de seus motoristas, para assegurar que estejam de acordo com a lei. Afinal, estão transportando vidas”.
Passageiros irritados e com medo
A performance dos motoristas de ônibus do Rio ao volante assusta e irrita os passageiros. Para Sivanil Alves, 36 anos, que trabalha em distribuidora de bebidas, os condutores profissionais necessitam de reciclagem. “Eles precisam ser mais bem treinados. Já cansei de ver ônibus mudando de pista sem dar seta, furando o sinal e dando freadas bruscas. Muita gente ainda vai se machucar se isso continuar assim”, preocupa-se Sivanil.
A estudante Marina Barros, 23 anos, também critica os rodoviários. “O serviço é péssimo. Freiam de repente e não param nos pontos. Para eles, o errado é certo e o certo, errado”, opina ela, que, na noite de sexta-feira, na Praça da República, já perdera a conta de quantos coletivos não pararam quando fez sinal.
Pontos de ônibus sem informações e abrigo
Vida de passageiro no Rio não é fácil. Pesquisa feita pelo Rio Ônibus mostra que, além dos atrasos e do desrespeito aos locais de parada, eles também têm que enfrentar a precariedade dos pontos de ônibus. Segundo o estudo, apenas 102 dos 9.227 pontos da capital (1,1%) estão em boas condições, oferecendo abrigo, cadeiras e informações sobre as linhas.
Já o número de pontos que possuem abrigos para os passageiros que aguardam a condução não passa de 2.974 (32,23%). Em 29,83% das paradas também não há nenhuma indicação sobre os coletivos que passam pelo local.
Na tentativa de corrigir o problema, o Rio Ônibus informou que até o fim de junho as informações estarão disponíveis na Internet. Os usuários poderão pesquisar os trajetos mais rápidos e baratos. Próximo estudo fará mapeamento sobre problemas de iluminação nos pontos, e o dados serão repassados à Secretaria de Obras.
Usuários se queixam do serviço
Conforto é uma palavra praticamente desconhecida para quem espera ônibus nos pontos do Rio. Em vez de bancos, teto e informações sobre as linhas que passam pelo local, o que se vê é a falta de respeito com os passageiros. Para uma cidade que deve ser o principal palco da Copa de 2014 e candidata a sediar a Olimpíada de 2016, ainda falta muito a ser feito.
“Sou da Bahia e estou conhecendo o Rio agora. Se não fosse minha amiga seria impossível pegar ônibus aqui. Não tem placa para ajudar”, lamenta a funcionária pública Agostinha Bonfim, 50.
A falta de informação prejudica até mesmo os cariocas. “Estou no ponto há mais de 40 minutos e não aguento mais. Várias pistas na Presidente Vargas vão para o Centro e só Deus sabe por qual o ônibus passará”, reclama o instalador hidráulico Geraldo de Assis, 57.
Até agosto, GPS na frota intermunicipal
Segunda reclamação mais registrada no Detro, a irregularidade dos horários dos ônibus está com os dias contados. De hoje até agosto, todos os 6.665 coletivos intermunicipais do estado deverão ter GPS — aparelho que monitora a localização e ajuda a manter a pontualidade.
Quando técnicos do Detro constatarem atraso, as empresas serão multadas em R$ 428,76 na hora — e não é preciso pôr fiscal na rua. Já a viação que ignorar o GPS pagará R$ 1.616. “Vimos que tem ônibus em excesso em horário de pouco movimento e falta de carros em outros horários”, observa o presidente do Detro, Rogério Onofre.
Passageiros veem a novidade com bons olhos. Gisele Sant’Anna Estefanio, 28 anos, mora no Jardim Tropical, em Nova Iguaçu, e estuda no Centro do Rio. “Às vezes, fico 50 minutos no ponto. Tomara que melhore”.