sábado, 27 de junho de 2009

Michael Jackson vai virar estátua na Favela Santa Marta

Rio - O adeus a Michael Jackson na Favela Santa Marta, em Botafogo, não houve espaço para lágrimas. Moradores da comunidade onde ele gravou o clipe ‘They Don’t Care About Us’, em 11 de fevereiro de 1996, homenagearam o astro dançando e cantando seus sucessos. O ídolo que levou a imagem do morro para o mundo ficará para sempre na laje onde um dia pisou: ele vai virar estátua e o espaço ganhará seu nome, segundo decisão do governador Sérgio Cabral.

Fãs optaram pela alegria e irreverência para lembrar o cantor na ‘Laje do Michael’, no Beco do Curió, que pouco mudou. Por volta das 11h15, um arco-íris coloriu o luto da favela, onde só se ouviam ontem canções do ídolo. O clima nem de longe lembrou a polêmica, à época, sobre a contratação de seguranças.

O próprio diretor do clipe, Spike Lee, admitiu ter pago a traficantes. “Com esse arco-íris, temos certeza de que, onde ele estiver, quer um luto sem choro”, afirmou o professor de dança Wesley de Souza Cabral, 18. Ele escolheu a profissão por admiração ao astro, que ‘conheceu’ quando tinha só 5 anos. Ao lado de Wesley, a massoterapeuta e atriz do ‘Nós do Morro’ Antônia Carlos Gomes, 32, reproduzia passos. “Em todas as festas, desde pequena, vou vestida assim, como Michael”, ressaltou Antônia, de casaco preto sobre blusa branca, calça bege, óculos escuros e sapatilhas.

Há quem se sinta parte da história do astro. Gabriele Meireles de Araújo, 14, exibia com orgulho a foto com apenas 1 ano de idade nos braços do cantor. “Fiquei conhecida como a ‘menina do Michael’. Estou triste, mas ao mesmo tempo feliz por ter participado da história dele”, afirmou a jovem, embalada por 20 minutos pelo rei do pop. “Estava com ela na janela da ONG Eco, onde ele gravou parte do clipe. Ele olhou para mim e fez um sinal, pedindo que eu o deixasse pegá-la”, lembrou a doméstica Dorlete Mendonça, 37, que hoje mora com a filha na Ilha do Governador.

Na ONG, que virou camarim durante a gravação do clipe, autógrafo de Michael na parede é preservado. “A presença dele ajudou a nos tirar um pouco do anonimato e da exclusão social”, observou Nandson Ribeiro, 24 anos, coordenador do espaço, que atente 320 crianças e adolescentes em projetos de lazer.
Para o pintor Edmar Marcelino Franco, 29 anos, troféu mesmo é a camiseta usada pelos ‘seguranças’. “Fui um deles. Ao subir a escadaria, ele ia entrar numa viela errada e eu o alertei sobre o caminho certo”, relembra Edmar, que garante ter tocado no ombro de Michael.

Eternidade em funk, vídeo e coreografia

Vai se chamar ‘Espaço Michael Jackson’ a laje da Santa Marta onde o cantor dançou em 1996. Decreto será publicado no Diário Oficial segunda-feira. O governador Sérgio Cabral encomendará escultura que simulará cena do clipe: “Vamos homenagear o Michael Jackson, um ídolo da minha geração”.

A ida do cantor à favela foi tão marcante que cada um deu seu jeito de imortalizá-la. “Fiz um funk”, contou o MC Félix da Silva, 47, que saiu de São Gonçalo para visitar a laje famosa ontem. Já o produtor Luiz Paulo Assis, 40, registrou tudo em vídeo: “Eu e uns amigos gravamos seis horas de imagens”. Prova de que Michael é para sempre também estava nos pés de Patrick, 11, Marcos, 9, e Tauã, 13. Eles não eram nascidos quando o astro inventou o ‘moonwalk’ (passo da lua). Mas ontem o trio repetia seu jeito de dançar deslizando para trás.

Crazy Notice