Uma semana depois de sair da cadeia, pedreiro matou primeira vítima, o que causou indignação
Rio - Uma atitude desastrosa. Assim a CPI da Pedofilia definiu a sentença do juiz Luis Carlos de Miranda, que pôs em liberdade Adimar de Jesus, 40 anos, assassino confesso de seis jovens entre 13 e 19 anos, em Luziânia (GO). O pedreiro, condenado a 15 anos de prisão, ganhou liberdade condicional no dia 23 de dezembro do ano passado, após quatro anos preso por estupro e assédio sexual. O juiz de Goiás deverá ser chamado na comissão. Ele considerou que o criminoso tinha “requisito comportamental preenchido” e “condições de cumprir a pena em regime de menor rigor”. Uma semana depois que saiu da cadeia, o criminoso matava a primeira das seis vítimas em 30 dias.
Adimar chegou a ser considerado “psicopata com grave distúrbio”, segundo o delegado da Polícia Federal Wesley Almeida, que acompanhou o caso. Mas nota divulgada ontem pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal diz que a decisão de conceder regime aberto ao detento foi baseada em laudo que afirmava que ele teve acompanhamento profissional e não demonstrava possuir doença mental.
Segundo o delegado, o laudo que classificava Adimar como psicopata foi assinado por cinco médicos e dizia que ele deveria ser “isolado do convívio social”. “Se o psicopata estivesse preso, não fazia isso”, criticou o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia, lembrando que pedófilo tem bom comportamento na cadeia “porque tem medo” de ser morto.
Em entrevista coletiva, o pedreiro chorou e disse que está arrependido. “Não consigo parar de matar, preciso de ajuda para parar com essas coisas”, disse ele ontem, após prestar depoimento na CPI, na Secretaria de Segurança Pública de Goiás. Ele contou que um jovem de 17 anos teria lhe contratado por R$ 5 mil para fotografar jovens e divulgar na internet, além de cobrar dívidas de devedores do tráfico. “Peço perdão às mães. Não fiz por querer mal, foi por dinheiro”. O pedreiro matou os jovens a golpes de enxada. Os corpos foram encontrados nus e enterrados. Segundo ele, dois foram atacados pela frente. Os outros, por trás, de surpresa. A polícia informou que o jovem de 17 anos — identificado pelo assassino como Zé — se chamava Flávio Augusto dos Santos. No depoimento, ele disse que ouvia vozes “do capeta” e sonhava com “pedidos” para que matasse os jovens.
Para o senador Demóstenes Torres, em nenhum momento o pedreiro demonstrou arrependimento na CPI. “Disse que matava porque tinha ódio, nojo do que fazia”.
Apoio psiquiátrico na prisão
A Vara de Execuções Penais do Distrito Federal divulgou nota na qual afirma que foram tomadas cautelas antes de garantir a Adimar o direito de progredir para o regime aberto. De acordo com o documento divulgado no site do Tribunal de Justiça do DF, o pedreiro teve apoio psicológico e psiquiátrico. Segundo a nota, ele sempre se apresentou com polidez e coerência de pensamento e demonstrou crítica sobre os comportamentos a ele atribuídos. O relatório psiquiátrico teria comunicado, segundo a nota, que ele “não demonstra possuir doença mental, nem necessitar de medicação controlada”. “Infelizmente, não há como antever que certos condenados agraciados com benefícios externos ou a progressão para o regime menos rigoroso irão cometer atos tão graves”, conclui a nota.
Presidente do STF defende monitoramento
O presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília disse considerar comum o criminoso ter bom comportamento quando está na cadeia. “É simples. Lá não tem crianças, então ele vai ter bom comportamento”, disse Antônio Geraldo da Silva. O psiquiatra Guido Palomba, especialista no tema disse que o pedreiro deveria ter sido isolado.
“Ele teria que receber medida de segurança, ou seja, somente voltar para a sociedade quando cessasse a periculosidade. Ele seria avaliado e, como a periculosidade desses indivíduos jamais cessa, ele não voltaria mais para o seio da coletividade. O erro está aí”, comentou.
Para a OAB, a Justiça pode ter falhado. “Obviamente que o juiz tem que ter sensibilidade, mas se há um laudo pericial que diz que essa pessoa é psicopata, evidentemente que tem que ter tratamento diferenciado”, afirma Ophir Cavalcante, presidente da OAB.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, disse que criminosos beneficiados com progressão da pena devem ser monitorados com rigor, como com uma a pulseira eletrônica, exemplificou.